sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

JOHANNA DÖBEREINER


Johanna Döbereiner nasceu em Aussig, Checoslováquia, numa região cuja língua era o alemão. Seu pai, que era físico-químico, mudou-se com a família para a capital quando Johanna ainda era pequena, e foi professor de Química na Universidade de Praga. Era também proprietário de uma pequena fábrica de produtos químicos de uso na agricultura.
Terminada a Segunda Guerra Mundial, a população de língua alemã foi intensamente perseguida na Checoslováquia – os que sobreviveram foram expulsos do país. Foi o que aconteceu com Johanna, que seguiu com os avós para a Alemanha Oriental, onde trabalhou para o sustento dos três, numa fazenda, ordenhando vacas e espalhando esterco para adubar o solo. Com a morte dos avós, já idosos, conseguiu encontrar, na Bavária, pai, irmão, tia e primas. Sua mãe falecera em Praga, num campo de concentração instalado depois da guerra. Johanna foi, então, para a região de Munique. Trabalhou inicialmente numa pequena propriedade rural e, depois, numa fazenda maior, que produzia variedades melhoradas de trigo. Em 1947 iniciou o curso de Agronomia na Universidade de Munique, onde conheceu o estudante de Medicina Veterinária, Jürgen, com quem se casou em 1950. Nesse mesmo ano, seguindo os passos do pai, emigrou para o Brasil, com uma recomendação para o Serviço Nacional de Pesquisa Agropecuária, onde começou a trabalhar em Microbiologia do Solo. Seu filho mais novo, Lorenz, também iniciou uma brilhante carreira de cientista como geólogo mas foi tragicamente assassinado num assalto em 1997. A Sociedade Brasileira de Engenharia e de Geologia criou o Prêmio Lorenz Döbereiner para jovens geólogos. Johanna Döbereiner naturalizou-se brasileira em 1956. Morreu aos 75 anos, no dia 5 de outubro de 2000, em Seropédica, interior do Estado do Rio de Janeiro.
Ao chegar ao Brasil, em 1951, a doutora Johanna começou a trabalhar no Laboratório de Microbiologia de Solos do antigo DNPEA, do Ministério da Agricultura. Em 1957 era pesquisadora assistente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológi­co (CNPq) e, em 1968, pesquisadora conferencista. Entre 1963 e 1969, quando poucos cientistas acreditavam que a fixação biológica de nitrogênio (FBN) poderia competir com fertilizantes minerais, Johanna Döbereiner iniciou um programa de pesquisas sobre os aspectos limitantes da fixação biológica de nitrogênio (FBN) em leguminosas tropicais. O programa brasileiro de melhoramento da soja, iniciado em 1964, foi influenciado – como tantas outras pesquisas nas regiões tropicais – pelos trabalhos de Johanna Döbereiner, tendo representado, na época, uma quebra de paradigma.
Totalmente baseado no processo de FBN, o programa brasileiro de melhora­mento da soja desenvolveu-se no sentido inverso ao da orientação dos EUA, maior produtor mundial de soja, que elaborava tecnologias de produção apoiadas no uso intensivo de adubos nitrogenadas. Os estudos da Dra. Johanna permitiram que a fixação do nitrogênio pelas plantas fosse feita pela bactéria rhizobium. Dessa forma, a soja gerava seu próprio adubo.
A alternativa brasileira de estabelecer simbioses eficientes com rizóbios permitiu a eliminação dos adubos nitrogenados na cultura da soja, o que representa uma economia anual de mais de 2 bilhões de dólares para o Brasil. Foi assim que os produtores brasileiros de soja puderam ver diminuídos seus custos de produção e a soja conseguiu competir com sucesso no mercado internacional. A crise de energia aumentou o interesse na pesquisa sobre FBN, estendendo-a às associações entre gramíneas e micror­ganismos diazotróficos. Foi constante a presença da dra. Döbereiner nesses estudos, desde as descobertas iniciais da ocorrência de Azotobacter paspali em associação com raízes de Paspalum notatum, até as associações de várias bactérias diazotróficas em simbiose endofítica com plantas não leguminosas. Foram descobertas nove espécies de bactérias diazotróficas associadas a gramíneas, cereais e tuberosas. Os melhores resultados ocorreram com algumas espécies de cana-de-açúcar. O trabalho da dra. Döbereiner permitiu o desenvolvimento de parcerias nacionais e internacionais com a Alemanha, os Estados Unidos e a Bélgica, assim como com outros países do Terceiro Mundo no qual a Embrapa Agrobiologia é considerada centro de excelência. Seu trabalho influenciou vários pesquisado­res, principalmente seus discípulos Vera L. Divan Baldani e Verônica Reis, que dão continuidade à linha de pesquisa em FBN em plantas não leguminosas. Autora de mais de 500 títulos, Johanna Döbereiner foi professora e orientadora de vários cientistas que hoje ocupam posição de destaque na pesquisa e na administração da pesquisa no Brasil, salientando-se Avílio Antônio Franco, Fabio Pedrosa, Helvécio De-Polli, José Ivo Baldani, José Roberto Peres, Maria Cristina Prata Neves, Maria de Fátima Moreira e Pedro Arraes, dentre outros. Em 1995, quando completou 71 anos, a comunidade científica organizou em Angra dos Reis, Rio de Janeiro, um simpósio internacional Sustainable Agriculture for the tropics: The role of Biological Nitrogen Fixation, do qual participaram 150 cientistas de 30 países. Os anais do encontro foram publicados em número especial da revista Soil Biology & Biochemistry, honraria que poucos expoentes da ciência no mundo obtiveram. Johanna Döbereiner teve assento na Academia de Ciência do Vaticano e foi dos poucos brasileiros a ter o nome presente na lista de indicações do Prêmio Nobel. Em 1996 recebeu o Prêmio por Excelência, Destaque Individual da Embrapa.

Fontehttps://www.embrapa.br/memoria-embrapa/personagens/johanna-dobereiner


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