A médica brasileira mudou de uma vez por todas a maneira como as
doenças psiquiátricas eram encaradas.
Nise da Silveira lutou durante toda a sua vida contra os manicômios e as barbaridades que aconteciam nesses ambientes (Foto: Alexandre Sant’Anna/SAÚDE é Vital)
Não sei vocês, mas pra mim é sempre um dilema a hora de selecionar um filme dentro do Netflix. Alguns dias, gasto mais tempo passeando pelos títulos do que propriamente assistindo algo na plataforma. Então, resolvi fazer minha boa ação do dia e ajudar vocês nessa árdua tarefa (não tem de quê ): semana passada fui muito feliz ao escolher naquele mundaréu a produção brasileira “Nise – O coração da Loucura”, dirigida por Roberto Berliner e estrelada pela atriz Glória Pires, recém-adicionada ao catálogo do serviço de streaming.
Veja o trailer abaixo:
A película conta um trecho da vida da psiquiatra alagoana Nise da Silveira (1905-1999). Fiquei abismado com o fato de, apesar de acompanhar o jornalismo de saúde há uns bons anos, nunca ter ouvido falar da história de uma personagem tão fascinante (falha minha!). Ela se formou em 1931 na Faculdade de Medicina da Bahia — foi, aliás, a única mulher entre outros 157 homens da turma. Nos bancos escolares, ainda encontrou seu futuro marido, o sanitarista Mário Magalhães da Silveira.
Após a morte de seus pais em Maceió, o casal resolveu mudar para o Rio de Janeiro, onde ela atuou em clínicas e hospitais psiquiátricos. Porém, sua longeva simpatia ao comunismo lhe custou caro: Nise acabou denunciada por uma enfermeira e foi presa pela polícia política do Estado Novo de Getúlio Vargas. Nos 18 meses de reclusão, dividiu a cela com a militante Olga Benário e manteve contato com o escritor Graciliano Ramos, que faria relatos sobre a médica em seu famoso livro Memórias do Cárcere:
“Lamentei ver a minha conterrânea fora do mundo, longe da profissão, do hospital, dos seus queridos loucos. Sabia-se culta e boa. Rachel de Queiroz me afirmara a grandeza moral daquela pessoinha tímida, sempre a esquivar-se, a reduzir-se, como a escusar-se a tomar espaço.”
Após passar um tempo na clandestinidade, Nise foi contratada em 1944 para o corpo clínico do Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Rio de Janeiro — e é aqui que o filme começa. Logo de cara, ela se opõe às novas técnicas para tratar os internos e se recusa a usar eletrochoques, camisas de força e isolamentos. Ao criar atritos com seus colegas de profissão, sofre uma transferência para a seção de Terapia Ocupacional, uma área completamente desprezada e sem os mínimos recursos.
É nesse momento que Nise revoluciona o tratamento das doenças mentais, junto com o médico Fábio Sodré. Em vez de permitir que seus pacientes fizessem serviços de limpeza ou levassem sovas, práticas bastante corriqueiras até então, oferece a eles pincéis, tintas e telas brancas. Esquizofrênicos ficavam livres para se expressar por meio da arte e frequentemente desenhavam mandalas. O resultado é inacreditável: além dos indivíduos melhorarem em seu comportamento, pintam verdadeiras obras de arte.
O trabalho foi reunido no Museu de Imagens do Inconsciente, que ganhou projeção internacional. Alguns dos quadros foram levados para o II Congresso Internacional de Psiquiatria em 1957, na cidade suíça de Zurique. A exposição foi inaugurada pelo próprio Carl Gustav Jung, um dos maiores nomes no estudo da psique humana. Nise trocava constantes cartas com Jung, que se interessou muito pelas iniciativas realizadas em terras brasileiras.
Fonte: https://saude.abril.com.br/blog/tunel-do-tempo/voce-precisa-conhecer-a-historia-de-nise-da-silveira/
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